Trump e Musk tentam despedaçar Nasa para ir a Marte – 23/02/2025 – Mensageiro Sideral


As primeiras semanas da administração Trump nos EUA são um espetáculo bizarro. Já falamos aqui neste espaço da caça às bruxas promovida contra diversidade em todas as agências governamentais, inclusive a Nasa –uma das joias da coroa, admirada no mundo inteiro.

Sempre foi assim: não importa se você é democrata ou republicano, ninguém nunca é contra a Nasa, possivelmente o maior símbolo histórico da superioridade tecnológica americana. Nem bem passaram dois meses de Trump de volta à Casa Branca e já temos de começar a nos perguntar o que vai sobrar da agência espacial. É um desmanche em curso.

A força de trabalho foi submetida a um programa de demissão voluntária que já teve a adesão de pelo menos 750 funcionários. Um dos que estão partindo é Jim Free, funcionário de carreira que estava na linha de sucessão para ser administrador interino após a troca de governo, mas foi preterido pela Casa Branca em favor de Janet Petro, que, ato contínuo, assinou o comunicado interno antidiversidade para implementar as ordens de Trump.

A esperança de uma gestão técnica da Nasa encolhe a cada dia. Nas últimas semanas, vimos uma tabelinha nas redes sociais entre Trump e Elon Musk, dono da SpaceX e virtual presidente americano sem ter sido eleito, em que ambos fingiam que os astronautas Suni Williams e Butch Wilmore foram abandonados à própria sorte no espaço pela administração Biden (não foram) e que Musk deveria preparar um resgate dos astronautas o mais rápido possível (quando a nave que vai trazê-los de volta já está há meses na Estação Espacial Internacional, e só não voltou ainda, em fevereiro, porque a própria SpaceX, empresa de Musk, estava atrasada na entrega da próxima cápsula a subir com astronautas para rendê-los em órbita).

O constrangimento fez Musk bater boca e trocar xingamentos com astronautas nas redes sociais, enquanto eles tentavam explicar ao público que ninguém havia sido abandonado e que o atraso nunca teve motivação política. Mas que importa a verdade hoje em dia, não é?

Ao mesmo tempo, um consenso vai se formando do que Trump, guiado por Musk, pode fazer com a agência espacial –em essência, jogar fora décadas de trabalho e parcerias internacionais, entrando numa aposta de “tudo ou nada” para a conquista de Marte. É mera coincidência que Musk desenvolve na SpaceX seu veículo Starship justamente para missões marcianas, não?

Há fortes rumores de que a gestão tentará cancelar o programa Artemis, ou no mínimo reformá-lo, eliminando as cápsulas Orion (feitas em parceria com europeus) e o foguete SLS. Para fechar a conta, na quinta-feira (20), Musk foi às redes sociais falar que a Nasa deveria derrubar a Estação Espacial Internacional (ISS) “o mais rápido possível”, sugerindo um horizonte de dois anos para isso. Tudo para concentrar esforços e recursos na ida a Marte (vulgo, na empresa dele).

Além de fingir que é novidade o movimento de encerrar o programa da estação (a SpaceX já foi contratada no ano passado para desenvolver a nave que vai derrubar o complexo), ele quer deixar na mão japoneses, canadenses, europeus (que pretendiam ir com a ISS até 2030) e até mesmo russos (que tinham se comprometido até 2028), eliminando precocemente o projeto.

Todos esses movimentos tendem a fazer com que a Nasa dependa mais da SpaceX e podem reduzir a agência a uma burocracia a serviço da empresa, reduzindo drasticamente seu portfólio de atividades. Resta saber se as instituições americanas (sobretudo o Congresso, que costuma ter bons olhos para a Nasa) vão deixar que esse desmanche chegue a termo.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.

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