Em uma coluna divulgada em meados de dezembro do ano passado, quando o R$/US$ havia batido nos 6,30, eu apontei que, não fossem fatores internacionais fora de nosso controle, a taxa de câmbio brasileira estaria em cerca de R$ 5,60. Alguns analistas questionaram isso, dando a entender que toda a desvalorização do real ao longo de 2024, partindo de cerca de 4,90 no final de 2023, seria explicada somente por fatores domésticos, sobretudo as preocupações crescentes quanto ao quadro fiscal.
Pois bem, nada mudou muito do ponto de vista das contas públicas brasileiras desde então e, ainda assim, o R$/US$ voltou, nos últimos dias, para pouco menos de 5,80 –quase 50 centavos abaixo do pico observado quando escrevi a coluna anterior. O real brasileiro, aliás, foi a moeda que mais se valorizou no mundo no acumulado deste ano de 2025, depois de ter sido uma das que mais se depreciaram ao longo de 2024.
O que está por trás dessa gangorra? Basicamente eles, os fatores internacionais, particularmente aqueles que emanam dos EUA. Depois de se valorizar cerca de 10% entre o final de setembro e meados de janeiro frente às principais moedas, o dólar norte-americano se desvalorizou em quase 3% nas últimas semanas. Minhas estimativas apontam que, a cada 1% de valorização/desvalorização do dólar frente às principais moedas, o real brasileiro perde/ganha cerca de 2%.
E o que está por trás desse movimento do dólar? Ao longo de outubro, conforme foi ficando evidente que Trump seria eleito presidente nos EUA, o dólar começou a se fortalecer, impulsionado também pela resiliência do crescimento do PIB do país, que reduziu bastante o “orçamento” esperado de cortes nos juros pelo Federal Reserve.
A vitória propriamente dita de Trump no começo de novembro impulsionou ainda mais o dólar, com os investidores incorporando, nos preços dos ativos, toda a agenda de política econômica sinalizada por ele, combinando taxação agressiva de produtos importados, redução de carga tributária sem compensação equivalente e piora do déficit fiscal norte-americano.
A “estratégia do caos” está em plena carga. Mas, ainda assim, alguns apostavam que o cenário poderia ser ainda pior –e isso acabou gerando um certo alívio nos mercados, por ora. Ademais, surgiram dados novos indicando uma inflação um pouco mais perto da meta nos EUA.
Mas não nos iludamos: a forte alta do indicador de incerteza política/econômica global nos últimos meses, para níveis não observados desde a pandemia, deixa claro que o que temos de mais certo no cenário econômico nos próximos meses e anos é uma volatilidade muito acima dos patamares usuais.
Até mesmo porque Trump é bastante imprevisível e pode anunciar medidas ainda mais grotescas caso sua popularidade recue: atualmente, o saldo líquido entre aprovação e reprovação dele é de pouco menos de 5 pontos percentuais, abaixo dos 8 p.p. do começo do ano e muito abaixo dos 18 p.p. que Joe Biden tinha em fevereiro de 2021 (com pouco mais de um mês de mandato).
Nesse contexto, não temos outra saída senão tornar a economia brasileira mais resiliente a essa nova era de incerteza atipicamente elevada. Uma forma de viabilizar isso é por meio de uma maior coerência entre a política fiscal, a política monetária (incluindo medidas macroprudenciais) e a política creditícia, que hoje estão muito descoordenadas, gerando piora expressiva da conta de juros da dívida pública (mesmo com o governo entregando as metas de resultado primário).
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