O bloco que se especializou em misturar fervo com luta e fazer desfiles ativistas, esse ano defende o próprio Carnaval de rua, as rodas de samba, a vida noturna e a cidade ocupada pela cultura e pela arte, conquistas de São Paulo que parecem sempre correr riscos ao serem permanente ameaçadas por retrocessos e ataques conservadores.
Nada estranho no país que teve sua democracia atacada e viu o ódio contra sua própria cultura ser disseminado, tão recentemente.
O autor da obra-prima que conta a trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, e que inspirou a outra obra-prima de Walter Salles, vai estar cercado pela energia mais potente que o Brasil pode gerar — aquela que vem do que fazemos de melhor, da festa, do Carnaval — sete dias antes do Oscar.
Ganhando ou perdendo o prêmio, a história já foi feita, porque a cultura brasileira está ocupando um espaço inédito de destaque, com as melhores pessoas possíveis nos representando. Quando vejo Fernanda Torres recebendo prêmios e falando sobre o filme nas redes e na mídia mundial, penso no sonho de um Brasil possível.
A potência de tudo isso é incalculável e, como bem disse o próprio Marcelo, após a conquista histórica de Fernanda no Globo de Ouro: “Tentaram acabar com o cinema brasileiro, criminalizar leis de incentivo à cultura, mas nós ainda estamos aqui. Eles se vão, a gente fica!”