Sylvia Colombo: Equador ferve a uma semana da eleição – 01/02/2025 – Sylvia Colombo



A política de deportação de imigrantes latino-americanos do governo de Donald Trump é baseada em uma premissa equivocada e cruel. Além disso, é hipócrita. Não é possível que ele e seus assessores desconheçam o fato de que as caravanas que seguem para o norte não são formadas por cartéis do narcotráfico ou facções criminosas.

Aqueles que partem, deixando para trás suas casas, familiares, ranchinhos e seu passado, não o fazem por prazer ou por lucro. Eles fogem do medo. Medo justamente desses criminosos.

O primeiro turno das eleições no Equador, que ocorre no próximo domingo (9), já é um reflexo da escalada de violência que saiu do controle.

O atual presidente, Daniel Noboa, 37, foi eleito apenas para concluir o mandato do ex-presidente Guillermo Lasso (2021-2023). Com pouco mais de um ano de governo, adotou medidas no estilo do salvadorenho Nayib Bukele: prisões em massa, restrições às liberdades civis e um enfrentamento implacável contra os cartéis que surgiram no país nos últimos tempos, como Los Lobos e Los Choneros.

Sua principal bandeira para a reeleição deveria ser a redução da violência entre esses grupos, embora tenha havido uma ligeira queda dos homicídios. Logo os cartéis passaram a ser controlados de dentro das prisões, e a prática da extorsão se disseminou pelo país. Não apenas empresários e comerciantes passaram a ser alvo, mas até mesmo trabalhadores que utilizam o transporte público nas grandes cidades, por exemplo, passam hoje por isso.

Noboa fez de tudo para que os eleitores equatorianos lhe confiem mais um mandato, mas a situação está longe de ser simples. Apagões frequentes também enfraqueceram sua posição. Além disso, há relatos de que as facções cometeram tortura e abusos de direitos humanos para se apropriar dos bens dos chamados “desplazados”.

De acordo com uma pesquisa da Ipsos, Noboa tem 45,5% das intenções de voto. Em segundo lugar aparece a candidata do ex-mandatário Rafael Correa, Luisa González, com 31,3%.

Um segundo turno é provável, mas uma vitória de Noboa no primeiro também é palpável. Segundo dados da ONG Insight Crime, mais de 80 mil pessoas tiveram de sair de suas casas durante a gestão de Noboa.

Muitos foram forçados a se deslocar internamente, mas a maioria encara o árduo caminho rumo ao norte, enfrentando os perigos do temido estreito de Darién e, agora, a possibilidade real de serem barrados na fronteira. Com a economia equatoriana fragilizada, não há empregos para aqueles que serão forçados a voltar pelas medidas de Trump, nem para os que tentaram sair e falharam.

A explosão da violência no Equador começou há cerca de duas décadas, quando cartéis colombianos e mexicanos foram atraídos pela fragilidade das leis e pela corrupção. O fato de o Equador ser dolarizado facilita a lavagem de dinheiro, e até mesmo grupos dos Bálcãs foram flagrados atuando no território equatoriano.

Nos últimos anos, a imigração legal de equatorianos para os EUA saltou de 24.900, em 2022, para 124 mil no ano passado.

O mais alarmante na situação equatoriana é que ela se soma ao fluxo de imigrantes que serão devolvidos pelos EUA nos próximos meses aos outros países. Com a economia fragilizada na região, além de três ditaduras consolidadas (Cuba, Venezuela e Nicarágua) e um governo autocrático em El Salvador, não é difícil imaginar que o novo mandato de Trump representará um grande desafio para os governos latino-americanos.


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