O apelo ao nacionalismo se fortaleceu na extrema direita nos últimos anos. Em uma comparação dos discursos de posse de Donald Trump em 2017 e 2025, a pesquisadora Sofia Azevedo aponta a substituição da centralidade do uso da palavra “povo”, em 2017, para a palavra “nação” em 2025.
A prática não foi diferente do discurso. Para além da taxação de parceiros comerciais dos Estados Unidos, e das deportações de imigrantes em aviões militares, mais caras do que voos de primeira classe para o mesmo destino, Trump decidiu comprar uma briga com a Constituição do país sobre quem tem direito de ser cidadão nos Estados Unidos.
Para o presidente recém-empossado, bebês nascidos em solo americano não devem mais ser considerados automaticamente cidadãos americanos. Em uma audiência que ocorreu três dias após a emissão da ordem executiva que acabaria com tal direito, o juiz federal John C. Coughenour, que bloqueou temporariamente o plano de Trump, disse que a ordem é “flagrantemente inconstitucional“.
Na Europa, a extrema direita alemã, agrupada no partido Alternativa para a Alemanha (AfD), conseguiu aumentar seu número de votos também apelando ao nacionalismo. De acordo com o manifesto do partido apresentado em janeiro deste ano, a AfD defende deportações em massa, chamadas de “remigração”, o fim de políticas de asilo e de todos os serviços de apoio a refugiados, incluindo o apoio do governo a ONGs que trabalham com refugiados, e a redução de benefícios para imigrantes.
Alice Weidel, candidata da AfD para disputar o governo da Alemanha neste mês, afirmou que “burcas, garotas com véu na cabeça, homens com facas e pessoas vagabundas não irão garantir a nossa prosperidade, crescimento e, acima de tudo, nosso estado de bem-estar social”. Weidel já conta com cerca de 22% dos votos, o que a posiciona em segundo lugar, atrás apenas dos conservadores reunidos na aliança dos partidos da União, União Democrata Cristã e União Social-Cristã (CDU/CSU), com 30%.
Um dos principais líderes do partido, Björn Höcke, foi a julgamento no ano ano passado por utilizar o slogan nazista “Alles für Deutschland” (“Tudo pela Alemanha”). Meses depois, logo após a vitória de Trump, Elon Musk fez uma saudação nazista, apoiou publicamente a AfD e disse que a Alemanha deve “superar culpa pelo passado”. Em uma live para o X com Weidel e Musk, apoiadores gritavam “Alice für Deutschland”, em referência a Höcke.
Weidel, contudo rebate as críticas de que seu partido, que prega o revisionismo histórico sobre o Holocausto, teria inspiração nazista. Em sua visão, Adolf Hitler era comunista e os nazistas eram “socialistas”. De fato, a AfD defende um “nacionalismo com menos Estado”.
A despeito de falar em estado de bem-estar social em seu discurso, Weidel propõe o enxugamento do estado de bem-estar social, impostos mais baixos e desregulamentação. Isso significa, por exemplo, abolir leis ambientais e relacionadas ao respeito de direitos humanos. Ou seja, na Alemanha de Weidel, não só os imigrantes perderão direitos, como também aqueles que seu partido identifica como o povo alemão. O apoio efusivo de trumpistas como Musk à AfD não poderia vir em um momento pior para Alemanha e para o mundo.