Lula: os riscos com a troca de comando na Câmara e Senado – 18/01/2025 – Raphael Di Cunto


A eleição do novo comando do Congresso marcará uma nova fase do governo Lula (PT). Há quem aposte que as dores de cabeça com o Senado farão os petistas lembrarem, saudosos, dos tempos de desavença com Arthur Lira.

Apesar do jeito zombeteiro, Davi Alcolumbre (União-AP) é considerado duro de negociar e com apetite por cargos —do funcionário que serve o café ao presidente de estatal. É famoso por entrar “em modo avião”, inacessível por telefone, quando não quer falar com alguém. Não importa se é um colega senador, um ministro ou o chefe de outro Poder.

Mesmo devedor de Bolsonaro, o senador travou por meses a votação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal por preferir outro nome. Já sob Lula, agências reguladoras estão acéfalas pelo mesmo motivo.

Alcolumbre voltará à presidência com mais poder, eleito por quase unanimidade, numa aliança com o governo, mas também com a oposição. Se no primeiro biênio o PL ficou isolado, ao disputar contra Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a adesão agora recomenda cautela à esquerda.

O tamanho do estrago pode ser antecipado pelo que o PL fez na Câmara quando teve espaço. Na Comissão de Fiscalização, convocou 14 ministros em um ano. Na de Constituição e Justiça, direcionou o debate à pauta conservadora —aborto, retaliação ao Judiciário, voto impresso.

A oposição pediu a Alcolumbre apoio para suas pautas e terá. O governo pediu ajuda para sobreviver e votar a pauta econômica. Também terá.

Há, porém, um cálculo político que talvez faça a balança pender à direita. Ele quer se reeleger em 2027, quando o PL deve ter ainda mais peso no Senado. Logo, fará gestos para manter esse eleitor satisfeito.

Na Câmara, o risco certo é o PL na vice-presidência. Altineu Côrtes (RJ) faz a ponte do “Centrão do PL” com o Palácio, mas não deixa de ser oposição e presidirá as sessões do Congresso para votar vetos presidenciais e o Orçamento se Alcolumbre escalá-lo.

Em busca de freios e contrapesos, o Palácio endossou Hugo Motta (Republicanos-PB) na Câmara. Petistas defendem que ele é aberto ao diálogo, que o pai votou em Lula e que negociará em melhores termos. A ver.


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