A lei que restringe o uso de dispositivos eletrônicos pessoais durante aulas, recreios e intervalos na educação básica surge como um marco importante para redirecionar a atenção de crianças e jovens.
Mais do que afastá-los das telas, a iniciativa busca abrir portas para a imaginação, criatividade e uma vida mais saudável por meio da leitura de livros físicos. É essencial aproveitar essa oportunidade para cultivar o amor pelos livros e promover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.
Em 1997, fundei a Associação Viva e Deixe Viver, uma organização que, desde então, tem desempenhado papel crucial na promoção da leitura em hospitais e escolas.
Por meio da dedicação dos voluntários contadores de histórias, a ONG enriquece a vida de crianças ao destacar a cultura brasileira, celebrando autores nacionais e o valor do lúdico na educação.
Anualmente, são lidos mais de 11 mil livros, transformando ambientes hospitalares e escolares em espaços de encantamento e aprendizado, especialmente para crianças que enfrentam desafios de saúde.
Pesquisas conduzidas pela associação revelam que 75% dos pais não leem para seus filhos, um dado alarmante que evidencia retrocesso na formação de leitores. Essa realidade contrasta com o interesse natural das crianças por histórias, frequentemente descoberto durante períodos de internação hospitalar.
A experiência ressalta a importância da participação ativa dos pais na introdução dos livros desde os primeiros anos, estimulando o hábito da leitura como parte do cotidiano familiar.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 17º, enfatiza a preservação da integridade física, psíquica e moral dos jovens. Nesse contexto, a leitura de livros físicos emerge como atividade que nutre a imaginação, promove a empatia e desenvolve habilidades cognitivas e emocionais indispensáveis para um crescimento saudável.
A nova legislação educativa também destaca a necessidade de um uso equilibrado e pedagógico das tecnologias. Embora ferramentas digitais possam complementar a aprendizagem, a leitura de livros físicos deve permanecer no centro das estratégias educacionais, servindo como base para a reflexão crítica e o aprendizado.
Cabe aos educadores criar metodologias que integrem a leitura de maneira significativa, incentivando o engajamento e o desenvolvimento intelectual dos estudantes.
Além disso, escolas devem ser ambientes de interação social, onde a leitura pode servir como elo entre alunos. Atividades como clubes do livro, feiras literárias e leituras compartilhadas têm o potencial de transformar a escola em espaço vibrante de trocas culturais e crescimento coletivo.
O envolvimento das famílias é igualmente indispensável. Pais, tios e avós desempenham papel fundamental ao incentivar hábitos de leitura, criando um ambiente propício para a descoberta literária.
Ler juntos, contar histórias e compartilhar reflexões sobre livros não apenas fortalece os vínculos familiares, mas também oferece alternativa enriquecedora ao uso excessivo de dispositivos digitais.
Aspecto central da nova lei é a atenção à saúde mental dos estudantes. O uso exagerado de celulares tem sido associado a problemas como ansiedade e déficit de atenção. Em contrapartida, a leitura promove relaxamento, reduz o estresse e estimula a liberação de hormônios relacionados ao bem-estar, como endorfina e ocitocina.
Pesquisa realizada pela Associação Viva e Deixe Viver em parceria com a Rede D’Or e a Universidade do ABC comprovaram esses benefícios, reforçando a importância de ambientes que favoreçam práticas literárias e suporte emocional.
A implementação da nova legislação exige colaboração entre estados, municípios e comunidades escolares. O apoio técnico e material do Ministério da Educação será fundamental para assegurar uma transição eficiente.
Adotar abordagens flexíveis e adaptadas às necessidades locais é imprescindível para garantir o acesso de todos os estudantes às oportunidades de enriquecimento literário.
A pesquisa “O Brasil que Lê”, realizada pela PUC-Rio em parceria com o Itaú Cultural e outras instituições, ressalta a leitura como ferramenta essencial para ampliar o conhecimento, fomentar o pensamento crítico e promover a inclusão.
Com 79% dos projetos de leitura utilizando mídias sociais para alcançar o público, a pesquisa também evidencia a importância das tecnologias digitais como aliadas na democratização do acesso à cultura.
A lei em questão simboliza avanço significativo na valorização da leitura e no combate ao uso excessivo de tecnologias por jovens. Ao posicionar o livro físico como instrumento central para a criatividade e o aprendizado, investimos no futuro de crianças e adolescentes, preparando-os para uma vida mais equilibrada e enriquecida por experiências literárias.
Com a união de esforços entre educadores, famílias e governos, podemos construir uma cultura de leitura que inspire gerações a explorar o mundo através das páginas de um livro.