Você já pensou em como um cozinheiro escolhe os melhores ingredientes para uma receita perfeita? No mundo dos investimentos, os fatores de ações são como esses ingredientes: cada um traz um sabor diferente ao portfólio. Eles são características específicas das ações que ajudam a explicar seu desempenho ao longo do tempo. Entre os mais conhecidos estão crescimento, dividendo, qualidade, momento, valor e small caps. Cada um desses fatores tem suas peculiaridades, e entender como eles se comportam pode transformar a forma como você investe.
Os gráficos abaixo ilustram o desempenho desses fatores em diferentes períodos (20 anos, 10 anos e 1 ano) revelando padrões e lições valiosas.
Quando olhamos para as últimas duas décadas (primeiro gráfico), o fator qualidade foi o grande vencedor, liderando com uma impressionante valorização. Ele reflete empresas com balanços sólidos, retornos sobre o patrimônio (ROE) elevados, lucros estáveis e baixo endividamento. É como escolher uma empresa com bases firmes, que navega bem mesmo em todos os mares, dessa forma, vai mais longe.
Por outro lado, o fator valor, que foca em ações negociadas abaixo de seu valor intrínseco, teve o pior desempenho na última década (gráfico a seguir). Isso pode surpreender, já que o valor muitas vezes é associado a oportunidades “baratas”. Segundo o critério da MSCI, o fator valor seleciona as empresas segundo os critérios de: preço sobre valor patrimonial, preço sobre lucro futuro de 12 meses e o conhecido dividend yield (rendimento de dividendos).
No entanto, os gráficos mostram que o fator valor enfrentou desafios em um cenário global que favoreceu crescimento e tecnologia, setores muitas vezes fora de seu escopo.
O fator dividendo, querido por muitos investidores que buscam renda recorrente, foi o pior fator nos últimos 12 meses e sempre esteve entre os piores nos períodos mais longos. Embora seja atraente pelo fluxo constante de pagamentos, sua performance no longo prazo ficou atrás de outros fatores. Reforço que esses gráficos consideram o reinvestimento dos dividendos. Isso nos ensina que buscar dividendos parece interessante, mas precisa ser equilibrado com outros aspectos, como crescimento e qualidade.
No gráfico mais recente, de um ano (abaixo), notamos mudanças interessantes. O fator momento, que investe em ações com forte tendência recente de alta, se destacou no curto prazo. Ele é como um surfista habilidoso, que pega a onda no momento exato, mas precisa de atenção constante para não ser derrubado. Já o fator small caps, que representa empresas menores, também apresentou um desempenho mais fraco tanto na última década como nos últimos 12 meses. Esses ativos tendem a sofrer mais em períodos de incerteza econômica.
Acompanhar os fatores é essencial porque eles ajudam a diversificar o portfólio e a alinhar os investimentos aos seus objetivos. Por exemplo, se você busca segurança em momentos de volatilidade, o fator qualidade pode ser o “ingrediente” ideal. Se deseja capturar altas rápidas, o fator momento pode ser mais adequado. Mas, como em uma boa receita, o equilíbrio é a chave. Apostar tudo em um único fator pode resultar em surpresas desagradáveis.
Os gráficos mostram que o comportamento dos fatores muda com o tempo e com o cenário econômico. Isso reforça a importância de estar atento às tendências, mas sem perder de vista seus objetivos de longo prazo. No mundo dos investimentos, o inesperado é sempre uma possibilidade, e ter um portfólio bem diversificado entre diferentes fatores pode ser a melhor forma de enfrentar as incertezas.
Portanto, da próxima vez que pensar em investir, lembre-se de que os fatores são como temperos: cada um tem seu papel, e o segredo está em saber combiná-los.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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