É de Rossellini o momento mais desconcertante da trama. Em um momento de certo caos, quando uma revelação de uma trapaça chacoalha a ordem vigente no refeitório dos cardeais, ela toma a palavra com propriedade e deixa bem claro que, ainda que as mulheres sejam quase mudas nesse jogo, elas não são cegas.
E há, por fim, o jogador crucial, que chega como uma peça que não se encaixa nesse tabuleiro, mas que apresenta um espelho para os jogadores. O que eles veem é reflexo de suas facetas mais humanas, muitas vezes sombrias, que se perdem muitas vezes da missão pelo caminho que, ainda que sejam sacerdotes, é povoado por qualidades muito humanas e mundanas, como o medo, a dúvida, a ambição, o erro.
Mas o que vale mais? É Carlos Diehz, em conversa exclusiva para Splash, quem responde: “É um estudo sobre a condição humana. Robert Harris teve a ideia de, bom, porque não escrever algo dentro da Igreja Católica, que sempre foi um mistério. O conclave é algo velado. Não só para os católicos, mas para o resto do mundo. Então, por que não abrir isso um pouco?”
“É sabido que existe esse tipo de, não maquinações, mas de conversas e tudo isso para ver quem pode ser o melhor papa. Quem pode continuar levando a Igreja Católica adiante? A maneira como ele faz isso, obviamente, é uma maneira atraente. Ele fala do caráter humano, de enxergá-lo mais além”, completa o ator que é arquiteto e que decidiu, como um projeto paralelo de realizar um desejo antigo, estudar atuação no Canadá, onde vive.
No processo de seleção de elenco, foi descoberto pela diretora de casting Nina Gold e se revelou perfeito para viver o circunspecto, simpático, mas sempre muito observador, cardeal Benitez. Ao chegar como um peixe fora d’água no jogo do Conclave, ele incomoda apenas por ser diferente, não se envolver nas maquinações e, principalmente, ter um papel decisivo para o desenrolar da eleição, que começar a literalmente se embolar.
A escolha de Diehz não foi por acaso, pois Nina queria exatamente provocar no elenco do filme o mesmo estranhamento que os cardeais sentem com a chegada de Benitez. “A intenção foi trazer uma pessoa nova, um novo ator que ninguém conhecia, porque o sentimento de estranheza de “quem é?”, não era apenas no set, mas no ambiente do filme e também fora?”, diz Diehz.