Essa engenheira agrônoma imigrou da Áustria para o Brasil após a conclusão do seu doutorado em Cultura de Solos e Nutrição Vegetal. Na década de 1950, publicou, em português, artigos científicos sobre erosão. E, ato contínuo, até 2017, escreveu importantes livros sobre manejo ecológico de solos, pastagens e pragas agrícolas. Foi a primeira cientista a falar de solo vivo.
Desde o período colonial pratica-se uma agricultura inadequada no Brasil, principalmente para as regiões tropicais do nosso país. De acordo com a doutora Primavesi, o solo dessas regiões, em contraste com os de clima temperado, necessita de matéria orgânica mais abundante, cobertura vegetal permanente para protegê-lo das chuvas mais intensas e da insolação maior, bem como de menor quantidade de insumos minerais.
Os solos tropicais, comparativamente aos temperados, são mais profundos, têm pH mais ácido, uma concentração de micro-organismos muitíssimo maior, decompõem o húmus mais rapidamente e, por não ficarem congelados no inverno, não necessitam de revolvimento profundo.
A natureza adapta-se às condições climáticas locais. A temperatura ideal do solo tropical, que fica exposto ao sol continuamente, é de 25ºC. Já em clima temperado, no qual o solo fica sob a neve no inverno, é de 12ºC. As práticas agrícolas que os imigrantes europeus implantaram no Brasil ignoraram muitos desses contrastes e não são as mais adequadas em muitos aspectos. Por exemplo, no que concerne às necessidades de manter cobertura vegetal permanente, maior incorporação de matéria orgânica, redução do desmatamento e inclusão de barreiras de vento em pastos e monoculturas.
Queimar florestas nativas para abrir pastos e implantar monoculturas, principalmente na Amazônia e no Cerrado, é uma prática inconsequente que está desequilibrando todo o sistema hidrológico do Cone Sul.
Além de liberar grandes quantidades de gases de efeito estufa, a retirada da vegetação elimina um elemento crucial para a infiltração da água da chuva, a recarga dos lençóis freáticos e o abastecimento das nascentes. Em seu lugar, surgem imensos cultivos carentes de biodiversidade, nos quais as chuvas escorrem, causam enchentes nas cidades, promovem erosão, assoreiam os rios e aceleram a evaporação.