Você já esteve em um lugar qualquer — talvez um quarto de hotel, um banco solitário ou uma clareira esquecida — e pensou no que ali já aconteceu? Quantas vidas se encontraram naquele espaço? Quem compartilhou um beijo, discutiu ou se apaixonou? É fascinante imaginar como ações tão comuns podem ligar pessoas e transformar lugares em guardiões de histórias e mistérios.
Essa é a premissa do novo longa de Robert Zemeckis, “Aqui” com um elenco talentoso, incluindo Tom Hanks, Robin Wright, Gwilym Lee, Michelle Dockery, Paul Bettany e Kelly Reilly. O filme explora a vida e o tempo através de uma narrativa não linear. Embora ambicioso, o resultado é monótono e superficial. A conexão entre gerações é o foco principal. No entanto, a execução falha em entregar uma experiência minimamente impactante. E acaba deixando o espectador com mais perguntas do que respostas.
A trama se desenrola inteiramente na sala de uma casa, um espaço que testemunha gerações de famílias, todas conectadas por um mesmo ambiente que, em algum momento, foi chamado de lar. Essa sala serve como palco para ilustrar as mudanças que atravessam eras distintas, desde os primórdios da humanidade até um futuro próximo. Richard (Tom Hanks) e Margaret (Robin Wright) formam um casal à beira de se despedir da casa que abrigou sua emocionante trajetória. É ali que suas memórias de amor, perdas, risos e história se entrelaçam, carregando ecos de um passado remoto até um futuro repleto de possibilidades.
A tecnologia de rejuvenescimento digital é um dos principais problemas. Tom Hanks e Robin Wright parecem desconfortáveis em suas representações digitais. Os efeitos visuais são perturbadores e de má qualidade. Esse recurso técnico é questionável e distrai o espectador. A escolha de usar esse método é controverso. Além disso, a representação digital não convence. O espectador permanece cético.
A narrativa é outro ponto fraco. A história é dividida em múltiplos fios, mas nenhum é explorado satisfatoriamente. Os personagens são subdesenvolvidos e carecem de profundidade. Fica quase impossível se conectar com eles. A edição confusa e saltaria contribui para a sensação de desconexão.
O longa tenta abordar temas profundos, como a passagem do tempo e a ligação humana. No entanto, acaba sendo superficial e sentimental. As mensagens sobre viver o presente são apresentadas de forma forçada. Isso é especialmente evidente nas cenas filosóficas. Mesmo com a família central que tinha tudo para explorar, alcoolismo, relações abusivas, gravidez na adolescência, abandono de sonhos e vários outros pontos.
A representação da família negra é problemática. A família é mostrada de forma superficial e clichê. Diálogos e ações parecem forçados, como por exemplo quando eles explicam para o filho o que fazer quando for parado em uma blitz. Essa representação estereotipada é desapontadora. A diversidade e inclusão são ignoradas. O filme perde uma oportunidade de abordar questões importantes. A falta de sensibilidade é notável.
O elenco, apesar de talentoso, não consegue salvar a produção. Tom Hanks e Robin Wright fazem o melhor que podem. No entanto, não conseguem superar as falhas técnicas e narrativas. Gwilym Lee e Michelle Dockery têm momentos dignos de nota, mas são subutilizados. O potencial do elenco é desperdiçado.
A direção de Zemeckis é controversa. A escolha de usar tecnologia de rejuvenescimento digital é apenas uma das decisões questionáveis. A falta de foco na história e nos personagens também é evidente. É claro que Zemeckis tentou criar algo inovador. No entanto, o resultado final não justifica os riscos tomados.
A estética visual realmente é impressionante, mas não suficiente para salvar a narrativa. A fotografia é bem feita, mas não compensa as falhas técnicas. A trilha sonora é esquecível e não adiciona nada à experiência. O design de produção é bem feito, mas não é suficiente para manter os olhos na trama.
Conclusão
Em resumo, “Aqui” é um filme que promete mais do que entrega. Com uma narrativa fragmentada, personagens subdesenvolvidos e tecnologia de efeitos especiais discutível, o longa é uma experiência desapontadora. Apesar do elenco talentoso, infelizmente a proposta não consegue superar suas falhas técnicas e narrativas. Fica faltando mais, mais história, mais desenvolvimento dos personagens. Veja bem isso não é um problema do ângulo único.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Robert Zemeckis;
Roteiro: Eric Roth e Robert Zemeckis;
Elenco: Tom Hanks, Robin Wright, Paul Bettany, Kelly Reilly;
Gênero: Drama;
Duração: 104 minutos;
Distribuição: Imagem Filmes;
Classificação indicativa: 14 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Sinny Assessoria e Imagem Filmes