Você já parou para pensar que, muitas vezes, insistir em algo pode ser mais prejudicial do que mudar de rota? É comum ouvirmos que, nos investimentos, a persistência é a chave para o sucesso. Mas e se a habilidade de desistir fosse, na verdade, uma estratégia ainda mais poderosa? Essa é a provocação do livro “Desistir: É Libertador Saber Quando se Afastar”, de Annie Duke.
Para quem não a conhece, Annie Duke é uma ex-campeã de pôquer e especialista em tomada de decisões. O pôquer é um jogo onde desistir na hora certa pode significar a diferença entre ganhar ou perder tudo – uma habilidade que ela traz para o mundo dos negócios e investimentos. No livro, ela explora o conceito de “custo afundado”, aquele erro clássico de persistir apenas porque já investimos tempo, dinheiro ou esforço em algo, mesmo sabendo que a direção está errada.
Nos investimentos, o custo afundado é um dos vieses mais comuns. Imagine o seguinte: você investiu em um ativo esperando que ele subisse, uma ação, por exemplo. Os meses passam e ela só acumula perdas. Ainda assim, você decide mantê-la, pensando: “Já perdi tanto, agora não faz sentido vender”. Só que faz, e muito.
O mercado financeiro é implacável, e a melhor decisão muitas vezes é aceitar a perda para redirecionar seus recursos para algo com mais potencial. A ilusão de “recuperar” o que foi perdido nos prende em uma armadilha emocional, enquanto o custo de oportunidade – o que poderíamos ganhar ao investir em outra opção – se torna cada vez maior.
A autora dá exemplos práticos de como insistir em decisões ruins pode ter consequências severas. Pense em empresas que insistiram em produtos ultrapassados, como máquinas de fax ou telefones fixos, enquanto a tecnologia já avançava para outros caminhos.
No mercado financeiro, algo semelhante ocorre com investidores que mantêm ativos perdedores porque “já chegaram até aqui”. O resultado, invariavelmente, é perder oportunidades melhores por insistir no que não dá mais retorno.
Mas como saber quando é hora de desistir? Annie Duke sugere que tomemos decisões baseadas no cenário atual e no potencial futuro, e não nas perdas passadas. Atitude que, frequentemente, abordo aqui nesta coluna.
Um exemplo é o caso de quem investiu em algumas ações brasileiras nos últimos anos. Quando as taxas de juros subiram, insistir nesses ativos sem recalcular o custo de oportunidade foi um erro que custou caro para muitos.
A mensagem principal do livro é clara: desistir não é fraqueza, mas estratégia. Isso significa ter coragem de admitir que erramos, recalcular o caminho e redirecionar nossos recursos para decisões mais promissoras. Como a autora destaca, o tempo e os recursos são finitos, e desperdiçá-los insistindo em escolhas ruins é uma das maiores armadilhas financeiras.
Se você está preso a investimentos que não performam como esperado, pergunte a si mesmo: se começasse do zero, colocaria dinheiro nesse ativo hoje? Se a resposta for não, talvez seja hora de liberar espaço na carteira para algo mais promissor. Lembre-se, insistir cegamente em algo não é estratégia, é inércia. E desistir, quando feito de forma consciente, pode ser o passo mais inteligente em direção ao sucesso financeiro.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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