
Quando a porcentagem de primeiro saque caiu de 68% no terceiro set para 48% no quarto, o cenário ficou um pouco mais claro. Monteiro não conseguia consistentemente devolver os saques de Nishikori a ponto de se colocar bem nos ralis. Foram só dois winners de devolução em todo o jogo. Apenas 24% dos pontos vencidos como devolvedor. Números baixíssimos para um jogo desse porte, sobretudo contra um Nishikori que hoje passa longe de ter no saque uma grande arma. Um Nishikori que sacou, em média (em media!), 20km/h mais lento do que Monteiro ao longo das 4h de jogo. O japonês registrou 171 km/h no primeiro serviço e 146 km/h no segundo, contra 191 km/h e 164 km/h do brasileiro, respectivamente.
Thiago agrediu pouco, pressionou pouco e mal mudou seu posicionamento, algo que pelo menos mexeria com os pontos de referência do japonês. O máximo que Monteiro fez nesse sentido foi, em alguns segundos serviços, dar um passo para trás e dois-três para a direita, mostrando ao japonês que devolveria com seu forehand. Pois Nishikori pouco se incomodou. Sacou no forehand mesmo, sem medo, e Monteiro nem assim conseguiu ser agressivo a ponto de se colocar em vantagem nos pontos.
Talvez seja cruel apontar o dedo na ferida agora, depois do que foi uma bela apresentação – e foi bela, de verdade, como escrevi lá no alto, na primeira linha deste text – mas muitos tenistas gostam de dizer, quando perdem match points, que os jogos não foram definidos só naqueles pontos. Clichê ou não, é uma tese que se aplica neste Nishikori x Monteiro. Tivesse devolvido com mais eficiência enquanto estava sacando bem, Thiago talvez tivesse fechado o jogo mais cedo. Quando o seu próprio saque teve uma queda – o que também é normal em jogos de cinco sets – ficou difícil segurar Nishikori.
Costumo escrever que enfrentar a elite expõe os pontos vulneráveis de qualquer atleta – não só no tênis. O Nishikori de hoje, fora do top 50 e com 35 anos, voltando a subir no ranking depois de uma cirurgia no quadril esquerdo em 202, não está mais na prateleira mais alta da ATP, mas conhece o jogo. Sabe o que precisa fazer e ainda o faz diante de suas limitações. Thiago foi a vítima mais recente. Sofreu uma derrota dura, amarga e que deixou exposto mais uma vez o elo mais fraco de seu tênis.
Coisas que eu acho que acho:
– Não gosto das marcas virtuais que a transmissão do Australian Open vem incluindo nas quadras, na área de jogo, durante os pontos. Nada contra os logos ou alguma empresa específica (Marriot Bonvoy, Google Pixel e Stella Artois foram algumas). Incomodam mais a monetização desnecessária e a poluição visual. “Ah, Cossenza, mas é um logo pequeno e só de um lado da quadra.” Concordo. Mas daqui a alguns anos, alguém vem com o discurso de “não atrapalha em nada” a transmissão (porque, na prática, não atrapalha mesmo) e resolve colocar outra marca do lado oposto da quadra. E quando argumentarem que essa outra marca não atrapalha, vão incluir outro logo na outra lateral. E mais um na lateral oposta. E mais um aqui, outro ali… É assim, sorrateiramente, que muitas coisas acontecem no tênis.