O Brasil mágico na COP30 – 04/02/2025 – Ilona Szabó de Carvalho



Com as felizes nomeações do embaixador André Corrêa do Lago para a presidência da COP30 e da secretária de Mudanças Climáticas, Ana Toni, como diretora-executiva, foi dada a largada oficial para o Brasil apresentar aos demais países suas prioridades na agenda do clima. Apesar de entender o que o embaixador chama de uma ambição realista, ou seja, o equilíbrio entre as metas desejadas e as alcançáveis, na verdade, o mundo espera mágica do Brasil.

Vivemos um daqueles momentos na história que no passado antecederam conflitos entre países –principal risco apontado pelo Global Risks Report de 2025, do Fórum Econômico Mundial.

O total reordenamento geopolítico que se vem desenhando é, sem exageros, o de maior impacto desde a Segunda Guerra Mundial, e a presidência da COP30 dentro desse cenário ganha um papel crucial.

No topo da lista dos riscos globais dos próximos dez anos estão também as mudanças críticas dos sistemas que regem o planeta, os eventos extremos, a falta de recursos naturais, a perda de biodiversidade e o colapso ecossistêmico.

Mesmo com o impacto da presidência de Donald Trump nos EUA, que desde o discurso de posse enfatizou a eliminação da pauta climática, não há espaço para ceticismo. Ainda teremos outras eleições determinantes neste ano –já vemos a inacreditável repetição da aliança entre a direita e o nazismo se estabelecendo na Alemanha e, na América Latina, Chile, Bolívia e Equador escolhem novos presidentes em ambientes políticos conturbados. Faz-se necessário isolar o perigoso negacionismo.

Portanto, as urgências tanto da cooperação entre os países para evitar a escalada das tensões geopolíticas –que poderiam nos levar a uma catastrófica guerra entre grandes potências– quanto para limitar o aquecimento global em 1,5°C andam de mãos dadas.

O Brasil assumiu também a presidência dos Brics e sabe que precisa abrir diálogos. As alianças e a construção de confiança serão fundamentais na busca de soluções pacíficas para os conflitos atuais e vindouros e para lidar com os impasses que vão se apresentar na COP30. Afinal, a pauta climática dos Brics é a do financiamento da transição dos países de renda média-baixa pelos de alta renda, tema que ficou muito aquém das expectativas na conferência passada, em Baku (Azerbaijão).

A mágica brasileira terá de funcionar para desafiar a matemática e fazer com que o resultado seja bem superior à adição de todas essas parcelas. Não é o momento de nivelar por baixo as expectativas em relação à COP30. Ao contrário, o momento é de construir as condições para obter um desfecho muito além do esperado.

Nas prioridades do Brasil para Belém, ao recolocar no rumo as metas climáticas de cada país signatário do Acordo de Paris, é importante entregar o financiamento para a descarbonização que promova a transição justa e mantenha a floresta em pé. A sinergia entre clima e biodiversidade tem de se traduzir na prática.

Há muitas outras frentes em que o Brasil pode apostar, mas esta COP precisa progredir na transição para longe dos combustíveis fósseis, mesmo que isso implique em prazos distintos para os países de renda média-baixa e os de alta.

Sejamos realistas, sim. Mas da linha do realismo mágico, aquele que cria condições para promover os saltos exigidos e unir os desiguais e improváveis neste momento histórico para a humanidade.


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