Em 1945, ano em que terminou a Segunda Guerra Mundial, nasceu Robert Nesta Marley. Dia 6 de fevereiro não é feriado oficial na Jamaica, mas o país estará em festa.
Já está, na verdade. Porque em 2025 são celebrados 80 anos do nascimento do homem que colocou políticos rivais no palco da ilha em guerra para apertarem as mãos e espalhou amor pelo mundo. “One Love. One Heart. Let’s get together and feel all right”.
Mensagem poderosa naquele 22 de abril de 1978, no Estádio Nacional, em Kingston, mas também hoje. Quando o ódio se multiplica pela Terra, em um jogo algorítmico perverso de supremacistas misóginos que interfere também nas urnas, “let them all pass all their dirty remarks (one love)”.
Um homem de pele escura, descendente de pessoas sequestradas na África para serem escravizadas no Caribe, nos convoca à emancipação. Seus cabelos, as menções a Deus e o uso de kaya vieram da religião rastafari, profetizada pelo panafricanista Marcus Garvey.
“Look to Africa for the crowning of a Black king” é a frase que costuma ser atribuída a Garvey nas explicações sobre a religião que leva o título e o nome do imperador etíope Haile Selassie antes da coroação: Ras Tafari.
Entre 1930 e 1974, Selassie foi imperador da Etiópia. Neste período, colonizadores italianos foram expulsos do país pela segunda vez: a primeira, foi ainda no século 19. Na segunda, tropas etíopes expulsaram o exército fascista de Mussolini.
O rei negro libertaria não apenas a Etiópia ou a África, mas também o Caribe e toda a diáspora africana espalhada pelo mundo.
O movimento religioso rastafari foi perseguido pelos colonizadores ingleses da Jamaica. Houve prisões, tortura e assassinatos de religiosos até a década de 1960.
Rastafaris deixam o cabelo crescer livremente, costumam ser vegetarianos e meditam para chegarem próximos a Jah –fumar kaya, também chamada ganja, ajuda nisso.
Bob Marley popularizou o rastafari e registrou muitos dos princípios do movimento em suas músicas: Deus está em todas as pessoas –não há escolhidos–, somos todas e todos parte de uma única energia, “One Love. One Heart”.
Em 1976, Bob Marley foi atingido com um tiro no peito, dentro de sua casa. Os que não queriam a paz também balearam sua esposa Rita Marley que, graças ao cabelo rastafari, teve o crânio preservado da bala dirigida à cabeça. O agente Don Taylor levou cinco tiros ao pular na frente de Bob para protegê-lo, e também sobreviveu. O horror daquelas dezenas de disparos está nos buracos preservados nas paredes da casa, hoje Museu Bob Marley, porque é importante lembrar.
Dois dias depois dos tiros, Bob e Rita tocaram e cantaram em um show para 80 mil pessoas, em um comício pela paz. “Por que eu tenho que parar se as pessoas que tentam tornar este mundo pior não tiram nenhum dia de descanso?”, perguntou Bob. O episódio está lindamente filmado em “Bob Marley: one love”, de 2024.
Se tudo der certo, chego a Kingston com Matheus Leitão no próximo dia 5 para acompanhar as celebrações no Museu Bob Marley. Há Trump, Musk, Zuckerberg. Temos também Bob e o amor.